Alguém já disse...

Os do mal começam a vencer quando os do bem cruzam os braços!

quinta-feira, 8 de março de 2012

Reunião de Professores

        Começo de ano letivo na rede estadual de ensino sempre tem reuniões "de formação" organizadas pela Coordenadoria de Educação. E este ano não foi diferente. A seguir a descrição de uma delas...
        O começo foi marcado por um pequeno atraso de trinta minutos. Trinta minutos para alguns, pois já ia a primeira palestra do dia em pleno andamento quando chegaram diversos grupos de professores. E com eles a tradicional conversa de quem caminha trocando muitas informações, novidades, notícias importantíssimas...
A primeira palestrante, tentando introduzir seu trabalho, usou uma técnica de integração entre os professores. E aí um problema de audição: eu ouvi ela dizer "_olhem para o colega ao lado...", mas a maioria dos colegas deve ter ouvido "_olhem para o colega ao lado, e conversem e riam muito e muito alto...". Ao menos foi isso que me pareceu, pois a balburdia foi grande. Custou a reacomodar o pessoal. O tiro saiu pela culatra, eh, eh, eh. 
Outra palestrante, mais tarde, iniciaria sua palestra perguntando ao auditório "_quem foi para o paredão do bigue bróder? Hein gente? An?". Forçou a barra. Quem vive de estudo, trabalha com pesquisa e leciona em universidades não tem tempo de ver estas bobagens, pois mal vê tevê e justamente quando pode vai assistir porcaria? E ainda chamou os profes de fúteis, comuns e desocupados. E muitos riram...
Apesar do enorme aviso na entrada do auditório, "é proibido comer e beber no interior do auditório", muitos eram os grupos de professores que traziam chimarrão, bolachinhas, balinhas, salgadinhos, docinhos, etc. E sem a menor cerimônia se deleitavam, como se estivessem em um pique-nique.
Dois lances de bancos à minha frente uma professora, em trajes que mais parecia estar indo para a praia, limpou suas enormes unhas vermelhas com um rolinho, um conezinho de papel (invólucro de chocolate, creio) e, ato supremo, cheirou a pontinha do papel (eca!) e o atirou no chão. No acarpetado chão do auditório. Só faltou fazer "óinc, óinc".
À tarde, lugares diferentes, colegas diferentes, mas o mesmo comportamento.
O fato de termos cinco palestras à tarde, após lauto almoço, num reinício de férias, deixou a turma meio malemolente, sorumbática, sonolenta. Mas não menos deseducada. 
Três professoras dividiam, não na mesma proporção, claro, as atenções entre a palestra e uma revistinha de perfumes e roupas íntimas: "_que lindo...", "_este é muito cheiroso...", "_aquele eu não gostei...", "_esta é m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a; s-e-n-s-a-c-i-o-n-a-l...". Fiquei até curioso diante de tanta veemência das qualidades do produto.
"Nossa, nossa, assim você me mata... ah, se eu te pego, ah, ah, se eu te pego...". Toca um celular em alto e bom tom. A dona, meio dormindo, custa a achar (bolsa de mulher...) e desligar o aparelho. Risadas, zoeira, muvuca...
Mas o sono não era privilégio dela, não. Àquela hora da tarde muitos lutavam para não se deixar abater pelo soninho da tarde. Eu mesmo tinha a impressão, em certos momentos, que minha cabeça pesava uns quinze quilos; a cabeça ia pesando, pesando, a voz da palestrante ficando longe, longe, longe e pimba! Quase caía. Que pescaria. Que luta inglória. Atrás de mim uma professora não só domia como ressonava de tal forma que tinha-se a impressão de que até sonhar sonhava. E pela expressão dela, o sonho era bom. E assim, uns quantos se entregavam aos braços de Morpheu.
"Tã,tã,tã,tã,tã,tã...tã,tã,tã,tã,...tã,tã,tan..." Toca outro telefone, desta vez o toque era a chamada de urgência da tevê Globo. Sobressalto, muitos acordam, alguns se assustam. Risadas, zoeira, muvuca. E o pior: a profe simplesmente começou a conversar ao telefone. Com a maior cara de pau ela ficou ali, dê-lhe papo, e risadinhas, e novidades, simplesmente ignorando a palestrante e o esforço que ela fazia para apresentar seu tema.
Já ao final, na hora dos debates, um professor, pelo visto com grande formação e muito conhecimento, porém em início de carreira, começou a fazer uma pergunta aos palestrantes. Seis minutos depois ninguém mais sabia o que ele queria saber e ele concluiu a pergunta sem uma interrogação se quer. Mas aqueles responderam do mesmo jeito...
Claro que muitos, muitos colegas, participaram ativamente das atividades, apreenderam o que era passado pelos palestrantes e puderam apropriar-se de um pouco do pouco conhecimento que era distribuído. Mas muitos não. Estes, não saberiam dizer o que se passou lá.
Mas então, amigo leitor, ao fim e ao cabo de tudo isso eu pergunto: que legitimidade temos, nós os professores, aqueles professores, de cobrar educação, respeito, responsabilidade e disciplina de nossos alunos? Hein?
         Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço? Isso para mim tem outro nome...

3 comentários:

  1. Adorei. O pior é que isso que acontece mesmo. Tô acostumada a participar de seminários, cursos q custam pequenas fortunas, onde o pessoal não tem a mínima noção. Bem nessas. Bjs.

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  2. Enquanto velhos paradigmas pessoais e individuais na educação não forem superados, sou meio cético com relação à mudanças. Mas já se nota algum progresso...

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