Celebramos sábado passado, 20/11/2021, o Dia Nacional da Consciência Negra coroando uma série de atividades e eventos que marcaram esta Semana da Consciência Negra, assim, com letra maiúscula. Em muitas cidades brasileiras é feriado.
Até certo
tempo atrás, dez anos mais ou menos, talvez, ainda era aceito se discutir da
necessidade ou da legitimidade dessa data em nosso calendário e de suas
implicações para o processo de superação do racismo e do preconceito racial.
Atualmente, esta discussão já está superada e quando alguém traz a mesma à baila
é por que ainda cultiva muito dos elementos que alicerçam tanto o racismo
quanto o preconceito racial. Anote aí amigo leitor: não se discute mais a
importância, o significado e a simbologia do Vinte de Novembro.
Historiadores,
sociólogos, filósofos, humanistas de uma forma geral, tem o conhecimento
formado a partir de muito estudo, de muita pesquisa, de muito trabalho. Não
inventam suas teses nem seu conhecimento. Para esses, a superação da discussão
acerca do Dia da Consciência Negra ocorreu há muito mais tempo. Pode-se até não
concordar com eles, mas tem que reconhecer que tal posicionamento não se baseia
em achismo e nem em dados superficiais ou vazios de fundamentação e
justificação técnico-científica.
Argumentos
como “os negros são mais racistas que os brancos”, “as cotas significam
discriminar os negros, pois dizem que eles não têm capacidade de progredir sem
ajuda”, “quando chamam alguém de bugre ou chamam de alemão eu não há ofensa,
por que chamar de negro ofende então?”,
“eu não sou racista, mas acho que há exagero nessa discussão e que cada um pensa
o que que quiser”, “conheço negros que são gente boa...” ou “...honestos...” ou
“...trabalhadores...”, “a oportunidade é para todos, os negros não aproveitam”,
etc, até tinham uma certa aceitação, para fins de argumentação, há uns vinte
anos atrás; hoje não mais, pois como eu disse, esta discussão está tão superada
nos meios culturalmente mais esclarecidos que fica até difícil de contrarrazoar,
pois são argumentos que suscitam muito mais o riso e a incredulidade do que o
objetivo de fomentar uma discussão ou uma contrariedade ao conhecimento
estabelecido; simplesmente não se discute mais isso, ou, em outras palavras,
discutir e argumentar essas bobagens significa estar-se muito atrás na evolução
das ideias e da cultura. Se, quando proferidas essas bobagens, as pessoas não
se opuserem é apenas por um motivo: respeito à ignorância (no sentido de
ignorar) alheia. Apenas isso.
O amigo leitor
até pode achar que isso tudo que eu escrevi é bobagem ou excesso (de repente em
sua cabeça até pode ser). Mas tem que ter a consciência de que está errado e
nessa condição não pode externar, em qualquer lugar e para quaisquer pessoas, o
seu ponto de vista, sob pena de ter sua ignorância (no sentido de ignorar) criminalizada.
Então tem que calar. Assim é comigo e meus preconceitos: são fortes, estão
arraigados em uma formação cultural de uma vida inteira, mas nem por isso se
justificam ou deixam de estar errados; então eu me calo, aceito as opiniões
diversas e tento, dentro do possível, compreender meu equívoco e tentar superá-lo.
É fácil? Claro que não, pois é toda uma história reproduzindo os mesmos
preconceitos e convivendo com eles como se não fossem errados. Mas é extremamente
necessária e importante a disposição para a mudança. E quem não concorda que
busque informações para transformar em conhecimento. Tarefa difícil, pois é
mais fácil repetir o mesmo do mesmo de sempre.
É bom deixar
claro que os negros não são coitados e o que buscam é o direito de superar
todas as formas de discriminação e preconceito que os atingem e que sabemos não
serem poucos. Para tal, a primeira coisa que precisam é de respeito, pois é exatamente
no ato de compreender a significação da data de hoje, bem como o significado da
palavra respeito, que reside toda sua luta. É algo muito mais complexo do que o
senso comum determina.
Para superar o
racismo e toda forma de preconceito ou discriminação racial a luta tem que ser
de todos, e não só dos negros. Nesse sentido, não basta não ser racista; é
preciso combater, ojerizar, criminalizar, irresignar-se, indignar-se contra o
racismo.