Estamos em meados de julho e começam a terminar os festejos juninos. É interessante notar que até essas tradicionais festas acabaram por sofrer os reflexos dessa relativização de conceitos e preconceitos e de práticas que atinge nosso mundo e muitas atividades que até bem pouco tempo eram aceitas como comuns, normais e ingênuas.
A fogueira de
São João, por exemplo, tornou-se proibida, pois mesmo que a lenha usada nela
tenha certificação de procedência de madeira oriunda de reflorestamento
regulamentado e certificado pelo IBAMA, Ministério da Agricultura e Meio
Ambiente, pela Secretaria do Meio Ambiente e pela Associação dos Defensores das
Matas e dos Mananciais Arboríferos (ADMMA – associação que eu criei agora, para
ilustrar o texto, ahahah), ela causa fumaça e agride a camada de ozônio,
tornando-se, então, ecologicamente inviável.
O mesmo
raciocínio da fogueira vale para as bandeirinhas que enfeitam os arraiais
juninos, pois o papel com que as mesmas são confeccionadas deve ter as mesmas
certificações que a madeira da fogueira. Além de que o descarte das mesmas deve
ocorrer apenas depois da aplicação do princípio dos 3Rs: Reduzir, Reutilizar e
Reciclar.
O quentão, a
bebida mais clássica de uma boa festa de São João, não pode ser de vinho, quiçá
ter uma boa dose de pinga agregada ao sabor, pois isso é fomentar em uma festa
popular o consumo de álcool que, como sabemos, é uma droga. Lícita, mas droga!
Um simples
cachorro-quente, um dos quitutes mais apreciados por crianças e marmanjos em
festas populares, entrou na pauta do questionamento de consumo nas festas
juninas escolares, afinal a salsicha é um alimento ultraprocessado, é um embutido,
e como tal, não é saudável, além de conter elevados índices de sódio, corantes,
conservantes, etc.. Não sei se é verdade, mas ouvi que houve a sugestão de se
substituir a salsicha por uma... cenoura. Hein? Hã? Como assim, cara pálida? É
quase de rir, ahahahahah. E tem a questão do molho, que não pode ser
industrializado, mas deve ser feito com tomates produzidos em empresas
agrícolas vinculadas ao sistema de agricultura familiar certificadas com o selo
nacional da produção orgânica, o famoso “livre de agrotóxicos”.
Um dos doces
mais tradicionais de uma festa junina é o pé-de-moleque, que terá que trocar de
nome sob pena de ser banido de tais comemorações. Isso pelo simples fato de que
comer um pé-de-moleque suscita a ideia de antropofagia e, na esteira de um
raciocínio de analogia, se o quentão favorece o alcoolismo, o pé-de-moleque
incentiva o canibalismo, certo?
O casamento na
roça, a teatralização mais icônica, tradicional e festiva de uma festa junina,
passou a ser visto como um triste episódio de preconceito, ironia e chacota ao
homem simples do interior; é a ridicularização do matuto e, portanto,
reprovável. Ainda mais que geralmente nesse casamento a noiva vai casar
grávida, o que demonstra a ignorância do roceiro quanto aos métodos
contraceptivos, além de que, não raro, o filho não é do noivo, mais de um outro
que, também não é incomum, pode ser até o padre. Que barbarbaridade! Isso além
do preconceito sexual implícito, afinal, por que a noiva não casa com uma noiva
e o noivo não casa com outro noivo?