Mais uma vez a
data foi marcada por homenagens, discursos fortes, destaque aos avanços dos
direitos femininos e, não podia ser diferente, algumas piadas referentes,
principalmente, às lidas domésticas.
Apesar de
todos os avanços, inclusive no aparato legal que busca diminuir as
desigualdades entre homens e mulheres, é sabido que esta igualdade está longe
de ser plena, e as estatísticas estão aí para comprovar: as mulheres ainda se
dedicam muito mais às atividades do chamado terceiro turno, ainda possuem uma
desproporcional equiparação salarial com os homens, uma vez que ganham menos
pelo exercício das mesmas funções e tarefas que eles, e, mais do que nunca, ainda
estão sofrendo extrema violência em face da diferença de gênero, em face do
fato de ser mulher.
Com relação
aos afazeres domésticos, não se precisa ir muito longe para se comprovar esta
realidade: quantos homens o amigo leitor ou a amiga leitora conhece que se
encarregam de dividir com suas esposas e companheiras as lidas da casa? Quantos
lavam e passam roupa? Quantos cozinham e deixam a cozinha em ordem após as
refeições? Quantos limpam a casa? Quantos estendem a cama, limpam o banheiro,
arrumam as crianças? Quantos vão às reuniões das escolas de seus filhos?
Quantos põem a mesa do café (e depois tiram)?
Sobre a
questão referente à comparação salarial entre mulheres e homens, leio em um
texto que, segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(sempre elas) a diferença salarial chega a girar em torno de 25 %, isto é, as
mulheres chegam a receber um quarto a menos do que os homens, apesar de
exercerem as mesmas funções.
Quanto à
violência contra as mulheres, tenho uma tese: não é que os casos (agressão, ofensa,
homicídios – feminicídios) tenham aumentando, como uma observação mais
simplista dos meios de comunicação nos leva a crer. Penso que sempre existiram.
Só que agora tem ocorrido a seguinte situação: os meios de comunicação estão
mais eficientes em tornar público essas agressões, ao mesmo tempo em que a
mulheres têm se mostrado mais combativas em ver apuradas as responsabilidades
por tais infrações. Antes a regra era calar, afinal, era comum as mulheres
suportarem “quietas” as agressões de seus maridos e companheiros, no famoso
ditado de que “o que acontece dentro de casa, morre dentro de casa”. E às vezes
morria mesmo. Literalmente. Agora não mais, felizmente.
Apesar dessa
infame realidade, a História do Brasil é marcada por uma sucessão de avanços
(muito lentos, claro) no que diz respeito à evolução dos direitos das mulheres
em oposição a seus deveres.
Em 1879 as
mulheres adquiriram o direito de cursar faculdades no Brasil; em 1932 a
Constituição Federal Brasileira autorizou o voto feminino; o ano de 1960 é um
ano emblemático nesse processo, pois foi o ano em que passou a ser
comercializada a pílula anticoncepcional. Foi um marco no desenvolvimento da
independência feminina, afinal, agora amentava o poder feminino de escolha
sobre a vontade ou o desejo de desenvolver ou não a maternidade. Mais mulher,
menos reprodutora. A pílula deu-lhes o poder de escolha. Foi o início da
Revolução Sexual, cujo símbolo máximo eram as imagens de mulheres queimando em
público suas calcinhas e sutiãs, lembram? Em 1962 o Estatuto da Mulher Casada
apresentou outros avanços em face do então vigente Código Civil. Antes dessa
lei, só para se ter ideia, as mulheres só podiam pleitear empregos se tivessem
autorização de seus maridos. Hoje isso soa absurdo, mas naquela época era muito
comum. Em 1977 outro avanço: através da Lei do Divórcio foi conferido às
mulheres o direito de por fim aos casamentos infelizes e violentos. Sobre isso
uma observação pessoal: lembro que em minha infância a mulher separada,
desquitada ou divorciada era quase que uma portadora de doença grave, acometida
de uma índole moral humana extremamente reprovável. Alguém se lembra disso? E a
mulher que usava calça comprida? Hein? E as que fumavam, não eram a
personificação do demo? Em 2006 foi instituída a Lei Maria da Penha, primeira
normatização a cerca de reconhecer os elementos caracterizadores da violência
doméstica e a criar mecanismos para que os mesmos fossem combatidos,
responsabilizados e punidos. Outra verdadeira revolução. Em 2015 a chamada Lei
do Feminicídio passa a qualificar os crimes cometidos em face da condição
humana de ser mulher como crime hediondo. Prisão para os vagabundos agressores.
É muito pouco ainda, claro, mas já é um avanço.
Penso
que estamos no caminho certo, mas vejo que esse caminho, para se tornar pleno,
tem que contar com a participação integral dos homens, que, observo, ainda têm
que passar também por um processo de emancipação emocional e, por que não,
espiritual. Só então, quando formos o que somos por sermos pessoas, e não
homens ou mulheres, poderemos dizer que a emancipação feminina está se
efetivando. Até lá a luta continua. Árdua, intensa e necessária.