Em nível estadual o eleitor,
mantendo a predisposição dos gaúchos de não reelegerem governador, impingiu ao
Governante Tumeleiro uma esperada e anunciada derrota. Não foi desta vez que um
governante se mante no posto por mais de um mandato.
Resta torcer para que o governador eleito, Eduardo Leite, consiga montar uma
equipe qualificada para enfrentar a adversa situação por que passa nosso
estado, adimplindo com os compromissos assumidos. Tarefa hercúlea, pois ao que
parece, a governabilidade, para os próximos anos, será algo muito difícil de
ser barganhado.
Em
nível federal, a polarização do processo de disputa deixou mais cicatrizes do
que aqui no Estado.
Antes
uma constatação: nem nos áureos tempos do PT, quando era o partido da esperança
e bastião da competência e da honestidade se viu uma campanha política tão
enraivecida, preconceituosa, prepotente, jocosa, soberba, desdenhosa, agressiva
e ofensiva; e olha que os militantes do Partido dos Trabalhadores não primavam
por fazer campanha de forma muito amainada. Pelo contrário.
Na
presente eleição, bastava alguém dizer que não votava no candidato Messias,
como eu, por exemplo, para ser ofendido e acusado de petista (e eu não sou, nem
nunca fui), de corrupto, de terrorista, de venezuelano, de ignorante, de burro,
de imbecil, de retardado, etc.. Era muito ódio, muita raiva, muita arrogância
de pessoas intransigentes que, risível, sequer eram capazes, muitas delas, de
fazer uma critica politica minimamente (adoro essa palavra) razoável. E as
agressões continuaram mesmo depois de confirmada a vitória.
Os
fatos que marcaram a campanha do Messias deixaram, ao menos para mim, uma
impressão muito nítida: se muitas pessoas votaram nele por que eram antipetistas,
se outros tantos votaram nele por que queriam mudanças a qualquer preço, muitos
outros o fizeram por que, consciente ou inconscientemente, compartilham dos
mesmos preconceitos em que ele sustentou sua campanha, isto é, rejeitam de
forma visceral direitos para as minorias, abominam de maneira doentia aceitar,
se quer discutir, questões de gênero e sexo, têm verdadeira ojeriza aos
programas assistenciais voltados às classes mais baixas, são adeptos do uso
incontinente da força contra qualquer ideia que se lhe apresente como
discordante ou que não coincida com seus preconceitos. A personificação no
Messias de todas essas posturas insidiosas reflete a soma das posturas
individuais de seus eleitores. De uma boa parte deles ao menos. Com certeza!
Mas
é como eu disse na anedota de semana passada: uma coisa é a campanha; outra é o
exercício do poder.
Para
que o Messias tenha um mínimo de legitimidade para governar terá que ter em
mente que quarenta e cinco por cento da população brasileira não comungam dos
mesmos preconceitos, das mesmas propostas desmesuradas e das mesmas ideias
anacrônicas que ele pregou e pelas quais conseguiu um bom número de adeptos. Terá
que contemporizar.
Agora,
registro de forma veemente: a partir do momento em que o Messias foi eleito eu
passei a torcer para que tudo comece a dar certo. Não sou nenhum um pouco
adepto do “quanto pior melhor”, seja em qualquer nível ou esfera da
administração. Meu candidato foi vencido? Quero mais é que o vencedor se dê bem
e que meus conceitos e, no caso da esfera federal, preconceitos, tenham que ser
revistos. Confesso, no entanto, que estou com curiosas expectativas a cerca de
alguns pontos que, nesse momento, não parecem ser da alçada de competências do
novo-futuro presidente.
Como
ele se sairá no momento de constituir uma equipe que realmente possa ser
legítima para contornar os principais problemas que entravam a estrutura
sócio-política-econômica do nosso país? A indicação do chefe da Casa Civil
aponta no sentido de que ele está buscando uma equipe que também seja politica,
mas nas áreas da indústria e da agricultura, carros chefes da economia
nacional, já começaram os atritos diante da possibilidade de unificação de
ministérios. E ele já avisou que pretende mexer na previdência, o que sabemos
ser “um verdadeiro vespeiro”...
Como
ele se comportará quando tiver que negociar a governabilidade, caso queira realmente
implantar mudanças estruturais significativas, diante de partidos políticos
que, ou farão ferrenha oposição, ou barganharão apoio na troca de favores nem
sempre convenientes ou oportunos?
Como
ele reagirá em face de uma intransigente oposição que resistirá, mesmo a
contrassenso, às propostas de mudança que poderiam atingir o ferrolho que
emperra o desenvolvimento do Brasil? Isso eu pergunto por que se tem uma imagem
que o Messias não cultiva, tão pouco transmite, é a de que seja dado às
negociações democráticas e que saiba conviver com a crítica, com a oposição e
com a contrariedade.
Mas
tem mais.
E
quando sua vontade não for atendida? E quando suas propostas não forem se quer
apreciadas? E quando a morosidade da máquina administrativa, do processo
legislativo e das demandas judiciais começar a emperrar a sua disposição de
governar? E quando os meios de comunicação começarem a fazer críticas e mais
críticas a si e a seus indicados e correligionários? E quando ele não conseguir
dar, em curto prazo, outro viés à administração, visto que qualquer processo de
mudança mais profunda é imensamente ronceiro?
São
tantas perguntas... Estou curioso pelas respostas. Quem viver, verá!