Alguém já disse...

Os do mal começam a vencer quando os do bem cruzam os braços!

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Primavera, bike, motos e caveiras

            Dias amenos pedem assuntos amenos.

Amena é a primavera com sua inspiração, época de belezas e do aroma das flores e das temperaturas equilibradas; período de sorrisos, por baixo das máscaras, daqueles que não sucumbiram à pandemia.


Então, aproveitando essa excelente época do ano, vamos falar sobre caveiras?

Muitos me perguntam por que em algumas das peças de roupas que eu uso, especialmente as da bike e da moto, aparecem bordados ou estampas de caveiras? Seja nas bandanas, na máscara, na luva, na balaclava, na jaqueta, lá está elas presentes.

Caveira é, via de regra e segundo muitos dicionários, o conjunto de crânio e ossos da face de um vertebrado morto, em especial a do ser humano. É essa caveira que eu uso.

Muitos são os significados da caveira, sendo muito comum identifica-la com a morte. Nesse sentido, é corriqueiro que ela esteja relacionada à coisas nocivas ou negativas como crimes ou ameaças de crimes, substâncias tóxicas, venenos ou locais intoxicantes e perigosos ou que exponham a algum tipo de risco. É sinal de alerta: tem perigo, lá está a ceveirinha, muitas vezes alocada sobre um par de ossos cruzados. Os piratas e os corsários se identificavam com caveiras, informando aos demais navegantes do perigo que representavam. A tropa de elite da polícia tem como símbolo a caveira e seu veículo blindado se chama caveirão, num objetivo aviso: cuidado, não viemos para brincadeiras. A polícia do Brasil é uma das que mais mata no mundo.

Porém, e sempre há poréns, como no meu caso e de muitos outros ciclistas e motociclistas, desportistas que cultivam uma vida saudável, equilibrada, responsável, a identificação com caveiras tem um outro sentido extremamente positivo e com o qual eu me identifico muito.

O amigo leitor sabia que a caveira também está relacionada, de uma forma geral, ao princípio da igualdade entre as pessoas? Hein? Hã? Depois de dito até parece óbvio, certo?

Anote aí: no momento que restarem apenas nossos ossos, se não formos cremados, claro, kkk, aí seremos todos iguais, primeiro, por que pouco importará quem fomos, depois, por que, olhando-se para uma caveira, não saberemos se seu antigo proprietário era branco ou preto, bonito ou feio, rico ou pobre, inteligente ou não, hétero, homo ou não binário, se era trabalhador ou preguiçoso, se era honesto ou um safardana, se foi casado ou solteiro, se era gordo ou magro, e tudo mais. Como caveira, ou já no estado de caveira, tudo isso pouco importará. Daí que nesse sentido a caveira indica, também, desapego e simplicidade, o que se opõe ao materialismo, ao individualismo e à desigualdade. Querem maior desapego do que à própria carne? Quem desapega de sua vida se desapega de tudo mais.

Os ciclistas e motociclistas se identificam com esses princípios.


Sobre uma bike, todo mundo é igual, por melhor ou mais moderna que a bicicleta seja, pois todos pedalam, fazem força, suam, cansam, passam frio, passam calor, sentem sede e fome, comem terra e mosquitos, se alimentam mal, etc. O cara com a bike de cem mil reais se iguala ao da de mil e quinhentos. E todos se divertem, se solidarizam, se exibem, se vangloriam e voltam para casa, via de regra muito cansados, mas completamente revigorados. Se as bikes podem ser diferentes, o mor pelo ciclismo os iguala.

Com os motociclistas ocorre a mesma coisa, pois não são as bikes que os une, mas o amor e o gosto por elas, ouvir o ronco do motor, mostrar seu equipamento, sua habilidade e técnica; também aquela insuspeita vontade de pegar a estrada e andar de cara no vento, gozando de cada rajada recebida. Sobre uma moto todos são iguais, e como os ciclistas, motociclistas também são solidários e parceiros; e também voltam cansados, mas vivificados.

Ora, vendo por esse ângulo é muito fácil compreender por que a caveira está presente, então, em uniformes e equipamentos de muitos ciclistas e motociclistas. É algo muito positivo, saudável e elogiável, ao contrário do que se possa pensar, certo? Sem falar que indica para os ciclistas aquele grupo de pessoas que não se priva de fazer força até estalar os ossos, enfrentar ribanceiras e perrengues em trilhas e estradas quando poderiam estar em casa, sentados, simplesmente “varejando”. Para os motociclistas também indica um sentimento de desapego ao conforto, buscando sobre suas motos contagiar com sua alegria, seus sorrisos, seus barulhos, até as pessoas que os assistem.


E o que tem a ver primavera com caveiras?

Ora, sabemos que a primavera tem uma simbologia bastante interessante: por suceder o inverno, a estação mais exigente de todas, ela representa renovação, renascimento, restauração de forças e energias, símbolo da vitória sobre os rigores do frio e preparação para a intensidade do verão. A caveira, que ao fim e ao cabo é nossa última lembrança física da estada nesse mundo, também traz implícita uma essa referente à mudança desta vida para outra; nesse sentido, tal qual a primavera, é também transformação na vida de alguém como princípio de nova etapa ou ciclo. Nossa vida é começo, meio e fim. Todo começo levará à um fim; todo fim nada mais é do que um (re)começo. Que bacana isso, né gente?

                     Vale, então, a reflexão!