Leio que serão
suspensas as modificações que estavam sendo implementadas no Ensino Médio
nacional, o chamado Novo Ensino Médio - NEM, que previa, entre outras coisas, o
aumento da carga horária dos estudantes, a adoção de uma base comum curricular
e a escolha dos itinerários formativos por parte do aluno. Já se fala mesmo na
“revogação do Novo Ensino Médio”. Por enquanto, o Ministério da Educação apenas
promoveu a “suspensão” do calendário de implantação da nova sistemática, o que só
foi possível pela mobilização coletiva de educadores(as), estudantes,
organizações sindicais e pesquisadores(as) da área, que defendem a completa
revogação do NEM.
Segundo o
Ministério da Educação há a necessidade de se ampliar as discussões sobre a
nova proposta, trazendo para o debate todos os agentes envolvidos no processo
de estruturação, desenvolvimento e aplicação dos processos educacionais
brasileiros.
O problema é
que em muitas esferas educacionais a nova proposta já está sendo implantada,
então agora parte-se para, em sentido figurado, um stand by. E aí, como fica
essa situação? Quem paga o preço (que não é baixo) desse vai-e-fica? E as
escolas que já iniciaram algumas mudanças? E o tempo dos professores?
Amigo leitor,
é o mesmo diante do mesmo?
Pergunto por
que a impressão que se tem, e daí falo com a experiência de quase quarenta anos
de labuta no magistério, é que em educação as políticas de governo são sempre
mais rápidas e importantes a serem implantadas do que as políticas de Estado,
se é que essas existem... E é muito comum o “mudar-se não mudando”.
De que adianta
fazer os alunos passarem mais tempo na escola se o índice de aproveitamento escolar
é cada vez menor? Com plena certeza posso afirmar que o contraturno escolar é
um procedimento extremamente valioso para elevar exponencialmente o
aproveitamento escolar de nossos estudantes, desde que adotado a partir de
bases técnicas, com profissionais competentes e bem remunerados, além de uma
comunidade mobilizada e proativa. Implantar por implantar, ou a partir da
vontade deste ou daquele administrador, sem um mínimo de critério é perda de
tempo e leva ao descrédito da proposta. O resultado da falta de critérios para
o contraturno é a infame afirmação propalada aos quatro ventos: os alunos
passam cada vez mais tempo na escola e aprendem cada vez menos...
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Imagem obtida da Internet - Carta Capital |
A questão
envolvendo a ideia de se adotar uma base comum curricular no território
nacional, isso já existe, afinal há algum tempo temos a BNCC – Base Nacional
Comum Curricular que é um documento normativo para as redes de ensino e suas
instituições públicas e privadas, referência obrigatória para elaboração dos
currículos escolares e propostas pedagógicas para a educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio no Brasil. Por que então esta nova novidade
(desculpando a redundância, claro, kkkk)?
Então, o nó
parece ser referente aos itinerários formativos, que seriam aquelas “linhas de
estudo e pesquisa” que os alunos adotariam na medida em que definissem o caminho
de formação que optariam por seguir ao longo dos estudos no ensino médio. Como
implantar isso? Como gerir as diferentes escolhas de um coletivo de estudantes
dentro de uma mesma instituição de ensino? Com administrar a questão dos
recursos humanos, sempre preteridos em função da exigências de cargas horárias
lotadas e economia de verbas? Como gerenciar os parcos recursos financeiros
destinados à infraestrutura escolar? São tantas perguntas, tão poucas
respostas... E por não poder responder essas questões de forma satisfatória que
as pernas do NEM fraquejam!
De certezas
apenas uma: estamos longe de a educação brasileira, especialmente a de base e
pública, ser uma instituição de prioridades. Infelizmente! É por esses motivos,
mas não só por eles, claro, que sou um descrente na melhora da qualidade da
educação pública brasileira a curto e médio prazo.
A qualidade do
ensino público é atualmente, muito mais fruto do esforço individual de alunos
ou pais, principalmente professores, funcionários e gestores do que do
funcionamento das instituições como coletivo. E as mantenedoras, então, nem se
fala...
Mas
continuamos na luta, nem que seja esperneando...