Dando continuidade à aventura cuja descrição iniciou semana passada, eis que vamos para a estrada no início efetivo de nossa viagem até o deserto de Atacama no Chile. A proposta, nesse primeiro dia, seria ir até à cidade gaúcha de São Borja, já na fronteira com a Argentina....
Confesso
que fiquei surpreso quando o celular despertou às 03:45h da manhã, ops, da madrugada, do dia 06 de fevereiro, pois como é muito comum com seres humanos
normais, eu também sofro com a insônia da ansiedade de expectativa sempre que
estou na véspera de uma viagem, uma aventura, um jogo importante... Nesta noite
de véspera o sono foi tranquilo e constante, e se não é o despertador, teria
queimado a hora combinada para o encontro de saída no posto Chimarrão, 04:30h.
A expectativa e a ansiedade para a saída em uma aventura como a que estávamos iniciando eram grandes. O friozinho na barriga vinha e ia cada vez que o trajeto era refeito na memória, e os quarenta e cinco minutos entre o pular da cama e o sair de casa passaram muito rápidos, sendo realmente o tempo exato para se arrumar, se equipar, conferir o check list de saída e sair com a moto. Às 04:30 o ronco da Bebê já acordou alguns valeverdenses de sono mais leve, kkkk.
Ah,
às 04:15h o parceiro de viagem manda uma mensagem: tu já está te arrumando?
Como assim cara pálida? Eu já estou pronto e tirando a moto da garagem,
ahahahahah
Horário
marcado para o encontro e bora para a estrada. Se tá com medo, vai com medo
mesmo! Está com ansiedade? Ela desaparece já nos primeiros quilômetro
rodados... A madrugada de temperatura amena prometia um bom e confortável
início de viagem; para mais tarde tínhamos a expectativa, diante da previsão,
de calor.
Rodados quatro
ou cinco quilômetros e “pisca a alta, liga o alerta e para no acostamento...”.
Esqueceu-se a carteira com la plata e
os documentos... Volta ao Vale, espera-se, absorve-se um pouco mais a ansiedade
e a expectativa e agora sim, bora para a estrada que já estamos atrasados...
Nossa ideia inicial era ir até São Borja, numa distância aproximada de 470 km; lá chegando veríamos o que fazer. Como saímos cedo, a viagem transcorreu de forma bastante agradável, ao menos até por volta das 10:30h, quando começamos a sentir o calor. Chegamos em São Borja por volta das 11:00h, não muito cansados, e resolvemos ir direto à alfândega e passar para o lado Argentino.
A passagem na
alfândega foi tranquila, atendimento simpático dos argentinos, um contraste com
os chilenos, documentação em ordem, e começamos a treinar nosso espanhol, na
verdade um “portunhol”, que ao longo da viagem foi sendo lapidado e treinado
quase à perfeição, já que estávamos sem nosso tradutor/intérprete oficial Diogo
Trarbach, kkk. Da alfândega fomos almoçar na cidade argentina de São Tomé, já
sob um forte calor que deixava nossas roupas encharcadas. Foi nosso primeiro
contato com um dos pratos tradicionais da culinária portenha: o “milanesa”, um bife à milanesa (alguns muito bons, outros nem tanto, kkk) que
pode ser de boi, de cerdo (porco), de
pollo (frango) ou de pescado (peixe).
Almoçados, resolvemos seguir à diante, pois ainda era cedo da tarde, e escolhemos para nosso primeiro pouso em solo argentino a cidade de Posadas, às margens do rio Paraná, cento e sessenta quilômetros adiante de onde estávamos.
O famoso "milanesa" |
Chegamos lá
por volta das 17:00, após passarmos muito, mas muito calor, e após sermos surpreendidos
por uma intensa chuva, que em determinados momentos se transformava em
granizo... Levamos algumas pedradas no lombo, nas mãos, nos braços e um
tiroteio no capacete, ahahahahah, mas nada muito sério. Ao menos arrefeceu um
pouco o calor.
A
cidade de Posadas é enorme. Tem mais de trezentos e sessenta mil habitantes, e
é uma cidade turística. Tem uma avenida costeira (Costaneira) que é sensacional. Não podemos esquecer que janeiro e
fevereiro são, também para os argentinos, meses de vacaciones (férias). Então o movimento era bastante intenso...
Posadas - Argentina |
Precisávamos escolher um hotel em Posadas, mas não tínhamos a menor ideia de por onde começar a procurar... Perdemo-nos numa rotunda (rotatória) e fizemos duas voltas no mesmo lugar, voltando ao local de início, kkk (nosso maps às vezes mais atrapalhava do que ajudava – mas eu acho que nosso navegador se atrapalhava com a pouca visão para enxergar o mapa, ahahahahah).
Foi então que
uma van nos “cortou a frente” e um braço nos sinalizou para parar... Desceu um
senhor que nos perguntou o que precisávamos... Se identificou como motociclista
e se dispôs nos levar até o centro da cidade... Lá chegando, muitos quilômetros
depois, nos indicou a rua central e um hotel que recebia motociclistas, Hotel
Colon, na rua Colon.
Um destaque deste hotel foi que nos apresentou o café da manhã tradicional dos hotéis argentinos, outro acepipe clássico de los hermanos: a media luna (tipo um croissant). Mas era um café espartano: uma xícara de café, com ou sem leite, e duas medias lunas. E só! Em meia hora a barriga já estava roncando, ahahahahah.
Hotel Colon |
Em posadas
fomos fazer o câmbio, pois até então só tínhamos reales, que já não era aceito em muitos lugares, e tarjeta (cartão de crédito), que também
não era muito aceita. Muitos dos pagamentos na Argentina tem que ser feitos em efectivo (em peso argentino). A relação
cambial era de R$1,00 valendo ARS 220,00 (um real valia duzentos e vinte pesos
argentinos). Saímos com os bolsos muito cheios de dinheiro...
*
O trânsito na Argentina...
Para
nós brasileiros, o trânsito argentino é uma coisa de louco. A única coisa que os argentinos
respeitam no trânsito é a sinaleira. Fora isso, tem-se a impressão de que não existem
muitas regras. Se considerarmos os motociclistas, então, aí sim é uma coisa
quase surreal: andam na contramão, andam sobre as calçadas, estacionam em
qualquer lugar, andam sem capacete, chegam a andar quatro ou cinco pessoas,
inclusive crianças, animais e todo tipo de coisa, sobre uma mesma moto
(geralmente de pequena cilindrada); as motos são um capítulo à parte: algumas
dão a impressão que saíram do ferro velho; vi uma (umas quantas) que ao invés
de farol, tinha uma lanterna amarrada sobre o painel, kkkk; outra não tinha
tanque de combustível, mas uma bambona de plástico no lugar; uma não tinha
banco, mas um pedaço de pneu de carro que o substituía, ahahahah; algumas
(muitas) não tinham painel, farol, espelho retrovisor, nada... E essas motos
trafegam tanto na cidade quanto nas rodovias, ahahahahahah. Passamos por um
motociclista que carregava tantas sacolas e sacos plásticos na moto que só
enxergávamos as rodas e os plásticos, mais nada. Não sei como ele enxergava a
estrada, ahahahahah. Vimos dois agentes de trânsito atacar dois motociclistas
nativos e quase serem atropelados, pois eles não pararam, kkkkk. Realmente foi
um experiência emocionante dirigir nas ruas e estradas argentinas...
* E se foi o
primeiro dia
E
assim foi o primeiro dia de nossa aventura. Muitas novidades, muitas
experiências, muitas emoções...
À
noite saímos para um merecido jantar, onde a carne argentina justificou sua
fama, sendo o assado de lomo, uma
referência em termos de cortes especiais da carne da rês, o melhor que comemos
em toda nossa viagem. Uma quilmes auxiliou a relaxar a musculatura para uma
excelente noite de sono... Isso depois de passearmos a pé por um calçadão no
centro da cidade, que não era calçadão, mas uma rua no mesmo nível e com o
mesmo piso da calçada e quase sermos atropelados, ahahahahah. Dois bocabertas
atrapalhando o trânsito, ahahahah.
Ah, o amigo Chico ficou sem sua zero álcool já que na Argentina esse produto é bastante raro. No Chile é mais raro ainda.
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