Alguém já disse...

Os do mal começam a vencer quando os do bem cruzam os braços!

sábado, 9 de março de 2024

Capítulo 02 - Dia 1 (06/02/2024)

          Dando continuidade à aventura cuja descrição iniciou semana passada, eis que vamos para a estrada no início efetivo de nossa viagem até o deserto de Atacama no Chile. A proposta, nesse primeiro dia, seria ir até à cidade gaúcha de São Borja, já na fronteira com a Argentina....

                 * 03:45

              Confesso que fiquei surpreso quando o celular despertou às 03:45h da manhã, ops, da madrugada, do dia 06 de fevereiro, pois como é muito comum com seres humanos normais, eu também sofro com a insônia da ansiedade de expectativa sempre que estou na véspera de uma viagem, uma aventura, um jogo importante... Nesta noite de véspera o sono foi tranquilo e constante, e se não é o despertador, teria queimado a hora combinada para o encontro de saída no posto Chimarrão, 04:30h.

           

     A expectativa e a ansiedade para a saída em uma aventura como a que estávamos iniciando eram grandes. O friozinho na barriga vinha e ia cada vez que o trajeto era refeito na memória, e os quarenta e cinco minutos entre o pular da cama e o sair de casa passaram muito rápidos, sendo realmente o tempo exato para se arrumar, se equipar, conferir o check list de saída e sair com a moto. Às 04:30 o ronco da Bebê já acordou alguns valeverdenses de sono mais leve, kkkk.

                Ah, às 04:15h o parceiro de viagem manda uma mensagem: tu já está te arrumando? Como assim cara pálida? Eu já estou pronto e tirando a moto da garagem, ahahahahah

           *A saída...

Horário marcado para o encontro e bora para a estrada. Se tá com medo, vai com medo mesmo! Está com ansiedade? Ela desaparece já nos primeiros quilômetro rodados... A madrugada de temperatura amena prometia um bom e confortável início de viagem; para mais tarde tínhamos a expectativa, diante da previsão, de calor.

Rodados quatro ou cinco quilômetros e “pisca a alta, liga o alerta e para no acostamento...”. Esqueceu-se a carteira com la plata e os documentos... Volta ao Vale, espera-se, absorve-se um pouco mais a ansiedade e a expectativa e agora sim, bora para a estrada que já estamos atrasados...

 * Primeira perna da viagem

Nossa ideia inicial era ir até São Borja, numa distância aproximada de 470 km; lá chegando veríamos o que fazer. Como saímos cedo, a viagem transcorreu de forma bastante agradável, ao menos até por volta das 10:30h, quando começamos a sentir o calor. Chegamos em São Borja por volta das 11:00h, não muito cansados, e resolvemos ir direto à alfândega e passar para o lado Argentino.

A passagem na alfândega foi tranquila, atendimento simpático dos argentinos, um contraste com os chilenos, documentação em ordem, e começamos a treinar nosso espanhol, na verdade um “portunhol”, que ao longo da viagem foi sendo lapidado e treinado quase à perfeição, já que estávamos sem nosso tradutor/intérprete oficial Diogo Trarbach, kkk. Da alfândega fomos almoçar na cidade argentina de São Tomé, já sob um forte calor que deixava nossas roupas encharcadas. Foi nosso primeiro contato com um dos pratos tradicionais da culinária portenha: o “milanesa”, um bife à milanesa (alguns muito bons, outros nem tanto, kkk) que pode ser de boi, de cerdo (porco), de pollo (frango) ou de pescado (peixe).

Almoçados, resolvemos seguir à diante, pois ainda era cedo da tarde, e escolhemos para nosso primeiro pouso em solo argentino a cidade de Posadas, às margens do rio Paraná, cento e sessenta quilômetros adiante de onde estávamos.

O famoso "milanesa"

Chegamos lá por volta das 17:00, após passarmos muito, mas muito calor, e após sermos surpreendidos por uma intensa chuva, que em determinados momentos se transformava em granizo... Levamos algumas pedradas no lombo, nas mãos, nos braços e um tiroteio no capacete, ahahahahah, mas nada muito sério. Ao menos arrefeceu um pouco o calor.

                 * Posadas

                A cidade de Posadas é enorme. Tem mais de trezentos e sessenta mil habitantes, e é uma cidade turística. Tem uma avenida costeira (Costaneira) que é sensacional. Não podemos esquecer que janeiro e fevereiro são, também para os argentinos, meses de vacaciones (férias). Então o movimento era bastante intenso...

            

Posadas - Argentina

    Precisávamos escolher um hotel em Posadas, mas não tínhamos a menor ideia de por onde começar a procurar... Perdemo-nos numa rotunda (rotatória) e fizemos duas voltas no mesmo lugar, voltando ao local de início, kkk (nosso maps às vezes mais atrapalhava do que ajudava – mas eu acho que nosso navegador se atrapalhava com a pouca visão para enxergar o mapa, ahahahahah).

Foi então que uma van nos “cortou a frente” e um braço nos sinalizou para parar... Desceu um senhor que nos perguntou o que precisávamos... Se identificou como motociclista e se dispôs nos levar até o centro da cidade... Lá chegando, muitos quilômetros depois, nos indicou a rua central e um hotel que recebia motociclistas, Hotel Colon, na rua Colon.

Um destaque deste hotel foi que nos apresentou o café da manhã tradicional dos hotéis argentinos, outro acepipe clássico de los hermanos: a media luna (tipo um croissant). Mas era um café espartano: uma xícara de café, com ou sem leite, e duas medias lunas. E só! Em meia hora a barriga já estava roncando, ahahahahah.

Hotel Colon

Em posadas fomos fazer o câmbio, pois até então só tínhamos reales, que já não era aceito em muitos lugares, e tarjeta (cartão de crédito), que também não era muito aceita. Muitos dos pagamentos na Argentina tem que ser feitos em efectivo (em peso argentino). A relação cambial era de R$1,00 valendo ARS 220,00 (um real valia duzentos e vinte pesos argentinos). Saímos com os bolsos muito cheios de dinheiro...

 

                * O trânsito na Argentina...

                Para nós brasileiros, o trânsito argentino é uma coisa de louco.               A única coisa que os argentinos respeitam no trânsito é a sinaleira. Fora isso, tem-se a impressão de que não existem muitas regras. Se considerarmos os motociclistas, então, aí sim é uma coisa quase surreal: andam na contramão, andam sobre as calçadas, estacionam em qualquer lugar, andam sem capacete, chegam a andar quatro ou cinco pessoas, inclusive crianças, animais e todo tipo de coisa, sobre uma mesma moto (geralmente de pequena cilindrada); as motos são um capítulo à parte: algumas dão a impressão que saíram do ferro velho; vi uma (umas quantas) que ao invés de farol, tinha uma lanterna amarrada sobre o painel, kkkk; outra não tinha tanque de combustível, mas uma bambona de plástico no lugar; uma não tinha banco, mas um pedaço de pneu de carro que o substituía, ahahahah; algumas (muitas) não tinham painel, farol, espelho retrovisor, nada... E essas motos trafegam tanto na cidade quanto nas rodovias, ahahahahahah. Passamos por um motociclista que carregava tantas sacolas e sacos plásticos na moto que só enxergávamos as rodas e os plásticos, mais nada. Não sei como ele enxergava a estrada, ahahahahah. Vimos dois agentes de trânsito atacar dois motociclistas nativos e quase serem atropelados, pois eles não pararam, kkkkk. Realmente foi um experiência emocionante dirigir nas ruas e estradas argentinas...

 

* E se foi o primeiro dia

                E assim foi o primeiro dia de nossa aventura. Muitas novidades, muitas experiências, muitas emoções...

                À noite saímos para um merecido jantar, onde a carne argentina justificou sua fama, sendo o assado de lomo, uma referência em termos de cortes especiais da carne da rês, o melhor que comemos em toda nossa viagem. Uma quilmes auxiliou a relaxar a musculatura para uma excelente noite de sono... Isso depois de passearmos a pé por um calçadão no centro da cidade, que não era calçadão, mas uma rua no mesmo nível e com o mesmo piso da calçada e quase sermos atropelados, ahahahahah. Dois bocabertas atrapalhando o trânsito, ahahahah.

                Ah, o amigo Chico ficou sem sua zero álcool já que na Argentina esse produto é bastante raro. No Chile é mais raro ainda.

                 * Próxima parada Corrientes

         O dia seguinte será dos mais interessantes, até por que começaram os perrengues. Foi também dia de lapidar o espírito do motociclismo. Mas isso vem no capítulo 03...

Ainda no Hotel Colon - Posadas


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