Alguém já disse...

Os do mal começam a vencer quando os do bem cruzam os braços!

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Festas de São João

          Estamos em meados de julho e começam a terminar os festejos juninos. É interessante notar que até essas tradicionais festas acabaram por sofrer os reflexos dessa relativização de conceitos e preconceitos e de práticas que atinge nosso mundo e muitas atividades que até bem pouco tempo eram aceitas como comuns, normais e ingênuas.

A fogueira de São João, por exemplo, tornou-se proibida, pois mesmo que a lenha usada nela tenha certificação de procedência de madeira oriunda de reflorestamento regulamentado e certificado pelo IBAMA, Ministério da Agricultura e Meio Ambiente, pela Secretaria do Meio Ambiente e pela Associação dos Defensores das Matas e dos Mananciais Arboríferos (ADMMA – associação que eu criei agora, para ilustrar o texto, ahahah), ela causa fumaça e agride a camada de ozônio, tornando-se, então, ecologicamente inviável.

O mesmo raciocínio da fogueira vale para as bandeirinhas que enfeitam os arraiais juninos, pois o papel com que as mesmas são confeccionadas deve ter as mesmas certificações que a madeira da fogueira. Além de que o descarte das mesmas deve ocorrer apenas depois da aplicação do princípio dos 3Rs: Reduzir, Reutilizar e Reciclar.

O quentão, a bebida mais clássica de uma boa festa de São João, não pode ser de vinho, quiçá ter uma boa dose de pinga agregada ao sabor, pois isso é fomentar em uma festa popular o consumo de álcool que, como sabemos, é uma droga. Lícita, mas droga!

Um simples cachorro-quente, um dos quitutes mais apreciados por crianças e marmanjos em festas populares, entrou na pauta do questionamento de consumo nas festas juninas escolares, afinal a salsicha é um alimento ultraprocessado, é um embutido, e como tal, não é saudável, além de conter elevados índices de sódio, corantes, conservantes, etc.. Não sei se é verdade, mas ouvi que houve a sugestão de se substituir a salsicha por uma... cenoura. Hein? Hã? Como assim, cara pálida? É quase de rir, ahahahahah. E tem a questão do molho, que não pode ser industrializado, mas deve ser feito com tomates produzidos em empresas agrícolas vinculadas ao sistema de agricultura familiar certificadas com o selo nacional da produção orgânica, o famoso “livre de agrotóxicos”.

Um dos doces mais tradicionais de uma festa junina é o pé-de-moleque, que terá que trocar de nome sob pena de ser banido de tais comemorações. Isso pelo simples fato de que comer um pé-de-moleque suscita a ideia de antropofagia e, na esteira de um raciocínio de analogia, se o quentão favorece o alcoolismo, o pé-de-moleque incentiva o canibalismo, certo?

O casamento na roça, a teatralização mais icônica, tradicional e festiva de uma festa junina, passou a ser visto como um triste episódio de preconceito, ironia e chacota ao homem simples do interior; é a ridicularização do matuto e, portanto, reprovável. Ainda mais que geralmente nesse casamento a noiva vai casar grávida, o que demonstra a ignorância do roceiro quanto aos métodos contraceptivos, além de que, não raro, o filho não é do noivo, mais de um outro que, também não é incomum, pode ser até o padre. Que barbarbaridade! Isso além do preconceito sexual implícito, afinal, por que a noiva não casa com uma noiva e o noivo não casa com outro noivo?

         Pois é amigo leitor, em tempos de tantas relativizações a gente até brinca com as coisas, mas é um brincar meio de esguelha, pois a linha que divide o permitido e correto do socialmente reprovável e incorreto é muito tênue e a nossa geração ainda está aprendendo a se ver livre dos preconceitos que até bem pouco tempo se quer existiam... Pelo sim, pelo não, muito cuidado ao caminhar, pois estamos pisando em ovos (no sentido figurado, claro).

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