Estamos passando por um momento
emblemático da História do Brasil.
A revolução
dos meios de comunicação tem nos permitido acessar lugares, instituições e
momentos que há alguns anos seria impossível.
Quando
foi que pensamos que poderíamos assistir, ao vivo e à cores, um julgamento de
nosso Pretório Excelso, com todas as nuances de um embate ideológico na
interpretação de nossa Carta Magna e sua aplicação a um ex-presidente da
república em voltas com sua prisão por corrupção? Quando? Nunca! E aqui já
cabem duas perguntas: numa ditadura isso seria possível? Se por ventura uma ditadura permitisse a
existência de um tribunal não alinhado, coisa impossível numa ditadura, claro,
mas se, e/ou se o julgamento fosse secreto, teríamos o mesmo resultado obtido
na madrugada de quinta-feira? Com certeza as respostas seriam nãããããããão! Mas
isso as viúvas carpideiras não se dão conta!
Veja
bem amigo leitor, o Lula já foi condenado em duas instâncias, cabendo ainda,
mais um recurso à sua condenação. O que esteve em julgamento esta semana não
era o seu recurso à condenação, mas sim se ele poderia ou não ser preso antes
de esgotados todos os recursos referentes a sua condenação. Coisas diferentes! Isso
por que a Constituição Federal Brasileira, a Constituição Cidadã de 1988, em
seu artigo 5º, inciso LVII (que inciso é esse?), diz que ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, e
como sabemos, o trânsito em julgado somente se dá quando não existirem mais
recursos. No caso do Lula ainda existem! Por seis votos a cinco os ministros-magistrados
decidiram que sim, o cumprimento da pena pode se dar antes de o indivíduo ser
plenamente condenado. Ainda bem que não é pena de morte...
Não
nos iludamos. Não posso aceitar que muitas pessoas defendam uma posição que
atribui ao PT todas as mazelas políticas brasileiras, esquecendo-se de que foi
durante a ditadura que surgiram, ou se desenvolveram e ou se enraizaram as
grandes corporações corruptas brasileiras, entendendo-se construtoras,
conglomerados industriais e comerciais, bancos, etc.. É de lá, também, muitos
dos partidos políticos e dos políticos de outros partidos que não o PT envolvidos
nas falcatruas que nos chegam ao conhecimento. E volto a destacar: o grande
mérito da democracia é que ficamos sabendo do que está acontecendo e podemos
cobrar dos poderes do Estado que as responsabilidades sejam apuradas. Em uma
ditadura isso jamais seria possível...
Compreensível
a repercussão internacional ao desfecho do caso do Habeas Corpus de Lula. De
todas as manchetes internacionais como no New York Times, Le Figarô, Clarin, El
País e outros, a que mais se aproximou do sentimento que tenho foi do jornal
francês Le Monde, litteris: “Condamné à douze ans et un moi de prison pour
corruption, l’icône de la gauche brésilienne a jusqu’à vendredi après midi pour
se présenter à la police” (En savoir plus sur
http://www.lemonde.fr/#bcBC8JWeIW4LlBCu.99), no bom português, “condenado a
doze anos e um mês de prisão por corrupção, o ícone da esquerda brasileira tem
até sexta-feira à tarde para se apresentar à polícia”.
Esta é a
palavra chave para entendermos a posição de muitas pessoas no presente caso:
ícone. Lula era um ícone. Mais! Foi esperança.
Por ter
frustrado uma absoluta parcela da população brasileira é que muitos, eu,
inclusive, torciam para que ele passasse logo a cumprir sua pena, já que foi
condenado em duas instâncias. Sem chororô nem mimimi.
O fato de eu
ter feito campanha para ele, votado nele e acreditado que poderia ter sido um
governante minimamente diferenciado, ou que poderia fazer e diferença, sendo
que em muitos aspectos o fez, em nada compromete minha clareza no sentido de
que ele foi corrupto, sucumbiu às alianças espúrias em nome de uma duvidável
governabilidade e que, portanto, deve pagar, de forma exemplar, pelos crimes
que cometeu. Me parece até que o fato de tê-lo apoiado nas eleições me dá mais
legitimidade para exigir justiça do que a quem foi contra ele desde o começo. Será
que não?
Que ele não
seja o último. E que a prisão dele não tire o foco da disposição das
instituições policiais e judiciárias em continuar a lutar contra este câncer
que é a corrupção.
Cadeia
neles!
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