Consegui usufruir de uma breve temporada de “tranquilidade” na orla marítima catarinense.
Num dos belos dias, devidamente acomodado em uma área ocupada por muitas famílias, presenciamos, eu e os demais veranistas, a aproximação de um casal acompanhado de uma moça de qualidades físicas muito acima da média. Se é que me entendem! Corpo em dia. Muito em dia. E bronzeado. Muito bronzeado. Biquíni diminuto. Muito diminuto. Estabeleceram-se bem próximos. Montaram o acampamento: guarda-sol, cadeiras, esteiras, toalhas, chimarrão, jornal e demais apetrechos. A moça de fisiologia privilegiada estendeu sua toalha no chão e, após uma interminável e deleitosa seção de lambusamento protetor (licença poética ou neologismo?), deitou-se. Em poucos minutos era ela e seu escultural corpo estendido a sensação daquele pedaço de praia.
A coisa esquentou quando lá pelas tantas, no intuito de não ficar com marquinhas inconvenientes, a moça, de bruços, desamarrou a parte superior do biquíni e “ajeitou” a parte inferior. Esticou-se e ficou ali, lagarteando, dourada, reluzente e deslumbrante. Um senhor já sessentão sentado a uns metros de mim desabou da cadeira, sob o olhar desconfiado da Nona. Risada geral.
Mas a coisa ficou quente, quente mesmo, quando apareceu uma senhora para conversar com aquela família. O casal continuou sentado, mas a moça, a atração da praia naquele momento, simplesmente segurou a parte superior do biquíni com um dos braços e se levantou. Assim mesmo, sem amarrar nada. Nenhum lacinho ou nozinho. As tirinhas caídas ao longo do corpo esguio. Teve marmanjo se engasgando com o chimarrão, virando a cerveja, limpando os óculos, levantando da cadeira, esticando o pescoço, baixando a aba do boné para poder olhar com mais tranquilidade e arrumando um sem número de subterfúgios para poder espiar a beldade. E as mulheres ali, fingindo naturalidade. Algumas, inconscientemente, taparam-se com as toalhas, esticaram as peças de banho para ver se aumentavam a área protegida ou simplesmente viraram de costas. Outras (todas?), procuraram aquela estriazinha ou celulitezinha que condenaria a musa dourada à vala das mortais. Não sei se acharam... Por uns quinze minutos a bela ficou ali, estática, conversando. E com o braço segurando a parte superior do biquíni. Por uns quinze minutos pairou no ar uma dúvida atroz: será que ela vai esquecer sua situação e, ao se despedir da titia, levantar os braços para abraçá-la? Nunca tantos desejaram tanto que aquela senhora fosse embora de uma vez. E ela foi. E o que ocorreu? Nada. A máquina simplesmente tornou a se deitar e voltou a usufruir seu consagrador momento de sol.
Para tristeza geral, ao menos de uma boa parte dos presentes, dali uns trinta minutos a moça se amarrou, a família recolheu os petrechos e, não sem que a linda fizesse uma insuspeita ginástica para recolher sua toalha e seu protetor solar, partiram. E ela nem deu uma olhadinha para trás. Para frustração de uns marmanjos que juravam ter flertado com ela.
Ganhou-se o dia na beira da praia...
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