Alguém já disse...

Os do mal começam a vencer quando os do bem cruzam os braços!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

História de Fevereiro (e que poderia acontecer com qualquer um)

“... Ão!.. Ão!.. Adão?
            De sobressalto o marido, de nome Wandercleison, acorda, no meio da madrugada, tendo quase certeza que sua esposa o chamara, de novo, de Adão.
            Adão!? Desta vez não se aguentou: _quem é Adão?
            Ela, também de sobressalto, responde, sonolenta e assustada: _ que Adão? _que Adão, hein? _Tá ficando louco?
_Eu tenho quase certeza que tu me chamou de Adão...
_ Tá besta é? Vai dormir e me deixa em paz... Talvez confundi teu nome...
_ Pode ser! Wandercleison é parecido com Adão...
            Muito desconfiado o marido tratou de se acomodar para retornar ao sono reparador. Não sem antes ficar meio desconfiado com aquele sorrisinho irônico de sua patroa ao virar para o lado e desejar-lhe bons sonhos, por que os dela “eram ótimos”.
            Ao longo do dia seguinte, uma quarta-feira, aquela história do Adão voltou, diversas vezes, à sua lembrança. Ficara muito mal explicada. Estaria sendo traído? Estaria ele com a cabeça florida? Seria ele o cabeça de galhada da vizinhança? Como procederia para descobrir tudo?
            Ao retornar do trabalho, notou que havia uma capela de santinha com três velas acesas sobre um móvel da sala. Estranhou novamente, pois a patroa nunca fora muito ligada em religião. O que estaria acontecendo?
_Pagando uma promessa, disse ela, sem maiores detalhes. E ele também não insistiu muito, até por que, promessa é promessa e ninguém quer saber qual a graça pedida, somente se foi atendida.
            Um tempo mais tarde, já no banho, ouviu que sua mulher conversava animadamente com uma amiga no celular quando, indisfarçadamente, de forma clara e inconfundível, ouviu-a dizer:
_ele é lindo, torço por ele... não o (não-entendeu)..., não, não por ele, pelo outro, pelo mais lindo, sim, pelo (não-entendeu de novo)...ão. Adão!? Isso na frente dos filhos que, pela naturalidade com que a ouviam pareciam já saber de público da traição de sua mãe. Seus sorrisos até acusavam uma certa cumplicidade.
            Não se aguentou e saiu do banho. Pelado e encharcado. Pôs-se estrategicamente atrás da porta. Pingando, tremendo (de frio ou de fúria), mas quieto. Agora daria o flagrante. Ela, de tão entretida, nem notou sua presença e continuou o papo.
_Fernandão, aquele liiiiindo! Que gato! Que homem! Até sonhar com ele tenho sonhado.
            O marido quase estourou... Sentiu as pernas dobrarem, um calorão lhe subindo o peito, uma vontade de voar no pescoço da traidora.
            E o diálogo continuava: _votei... votei muuuuitas vezes... Torci muito por ele. Ahã! Sim! Até promessa eu fiz para ele ficar. Ficou. Claro, com certeza, ahã, eu já paguei: isso, é, acendi três velas pra santinha. Ahã! Né, amiga, não vou pra cama sem olhar pra ele... Se a semana que vem ele for, eu vou de novo!
            Isso foi demais. O maridão deu um pulo, furioso:
_ agora tu me explica, safada! Quem é esse tal de Fernandão que tu não vai pra cama sem olhar e que a semana que vem tu vai encontrar de novo? Quem? Quem é o cafajeste? Me diz quem é que vou acabar com raça deste cana-safado?
            Risada geral. Gargalhadas gerais. Um dos filhos quase teve uma convulsão de tanto rir. E ele ali, que nem cachorro louco: espumando de raiva. E pelado. E molhado.
            Aos poucos, já enrolado numa toalha, na medida em que as explicações eram apresentadas, sua indignação foi dando lugar, primeiro ao constrangimento; depois, à vergonha; por fim, novamente, à risada geral. Como é bom rir das próprias gafes e mancadas.
            Wandercleison não costumava assistir o bigue bróder, pois achava uma inutilidade, uma sem-vergonhice e uma perda de tempo. Mas naquela noite não perderia. Queria ver este tal de Fernandão que lhe atrapalhara o sono e lhe causara tanto constrangimento.
            Wandercleison e a família ali, bestializados em frente à TV. Ele à espera da hora de conhecer seu rival televisivo.
            É! Realmente o cara era “estiloso”, “boa pinta”, pensou (estiloso e boa-pinta são formas que os homens encontram para dizer, sem dizê-lo, que um homem é bonito). É, a mulherada tem razão.
            Quando começava a ficar preocupado com as efusivas reações da patroa diante do estiloso-bróder-rival, este foi interrogado pelo apresentador do programa: “_ ao que você deve sua indicação ao paredão?” A resposta foi a seguinte: “_eu esperava que me atacassem pela frente, mas os ataques foram por trás”. Opa! Por trás, nada! Ele não notou esses ataques por trás?
            Neste momento, todos os receios do marido se desfizeram. As fantasias da patroa virariam agora motivo de chacota. Depois dessa afirmação, Wandercleison, triunfante, olhou para a esposa e disse:
_ Aposto que ele não pegou nenhuma na casa.
_ Nenhuma!
_ E nem vai pegar, eh, eh, eh.
            E foi se entregar ao sono dos justos, que não é homem de perder o tempo com estas bobagens.
            Mas, pelo sim pelo não, de vez em quando dava uma espiada na patroa e dizia: _menos... menos que não é pra tanto!
            E ai dela que confundisse Wandercleison com Fernandão!”

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