Há algum tempo
o jogador de futebol Gerson, famoso e um dos destaques da grande seleção brasileira
da Copa de Setenta, apareceu na televisão fazendo propaganda de uma marca de
cigarros. Ao final concluía dizendo que “o importante é levar vantagem em
tudo”.
Ao que me
lembro, o “levar vantagem em tudo” referia-se a um produto que alegava ser mais
saboroso, ter menos alcatrão e nicotina, etc. Nesse sentido, o fumante que
optasse por aquele produto estaria auferindo uma série de vantagens.
Não demorou
para que, num país como o nosso, houvesse uma apropriação da expressão “o
importante é levar vantagem em tudo”. Ela passou a significar ou a fazer
referência à pratica comum e disseminada de, no Brasil, todo mundo querer levar
vantagem em alguma coisa.
Atualmente, em
um primeiro momento, pode-se até fazer referência à classe política brasileira
que, sabemos, parece ser ou formar o grupo que, raras exceções (como se as exceções
já não fossem raras por sua natureza), é pródiga em levar vantagem, via de
regra indevidas, em tudo.
Tenho a impressão amigo leitor, que a classe política
brasileira, salvo as exceções, friso, é corrupta por sua natureza.
Mas não nos
iludamos. Não é apenas aos políticos que se aplica a Lei de Gerson, muito pelo
contrário.
A pessoa
comum, muitas vezes o cidadão de bem, também é dado à prática de querer levar
vantagem em tudo. Basta
uma pequena observação de nosso cotidiano para vermos que isso é muito mais
comum do que se imagina. Furar uma fila, estacionar na faixa de segurança,
pagar um preço a menor, dar um troco a menor, usar relações pessoas para obter
privilégios, descumprir horários, fugir das responsabilidades, votar em
políticos safados e incompetentes, e muito mais, tudo isso são formas de,
direta ou indiretamente, obter algum tipo de vantagem. E se o indivíduo comum
age assim, dá para esperar que nossos políticos sejam diferentes? Hein? Ham?
Mas um dia o
Gerson, estigmatizado por sua infame lei, foi à televisão para se explicar. Não
precisava. Qualquer pessoa com inteligência acima do senso comum sabia que
aquela não era a ideia proposta pela propaganda. Mas que pegou como uma
instrução para justificar essa disposição dos brasileiros em sempre se dar bem,
isso pegou. E creio que não muda mais. Coitado do Gerson.
Agora temos
observado na TV o Neymar fazendo uma propaganda de refrigerante em que os
turistas, por desconhecerem a língua portuguesa, fazem papel de bobos
atribuindo-se adjetivos jocosos, depreciativos e risíveis. É a Lei do Neymar:
aproveitar que durante a Copa do Mundo o Brasil receberá muitos turistas e
submetê-los ao ridículo para podermos dar umas boas risadas. Não é essa a ideia
que a infeliz propaganda nos passa? Amigo leitor, será que eu estou vendo coisa
onde não tem, do tipo chifre em cabeça de cavalo, dente em boca de galinha, perna
em cobra e cabelo em ovo?
E se as
pessoas começarem a achar que é normal e até aconselhável tratar os turistas da
forma como o jogador de bola trata na TV, isso não vai prejudicar ainda mais a
nossa imagem junto á comunidade internacional?
Confesso que a
primeira vez que vi a propaganda fiquei meio constrangido. É desrespeitosa,
para dizer o mínimo. E não venha depois o Neymar dizer que era apenas uma
propaganda, que não foi ele quem fez o texto, etc., pois tenho certeza que ela
sabia o que estava fazendo.
Tenho pena é
dos turistas, visto que virão para um país onde as pessoas querem obter
vantagem em tudo e onde serão motivo de chacota e de ridicularização. Depois
não querem que o Brasil e os brasileiros sejam vistos no exterior como um povo
subdesenvolvido que não tem muita civilidade, responsabilidade e respeito pelos
outros e por si.
Ah, e o locutor ainda diz “este (refrigerante) é produto
genuinamente brasileiro!” Então tá, ficamos assim...
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