Alguém já disse...

Os do mal começam a vencer quando os do bem cruzam os braços!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Greve dos Professores I

                Há mais de vinte e nove anos sou professor público estadual. Nesse período, comum a praticamente todos os anos, foi a discussão e a mobilização da categoria professoral em torno do descaso como a classe era, e é, tradada pelos diferentes governos. Com raras excessões, o magistério sempre foi usado como cavalo de batalha pelos candidatos ao governo do estado. E estes, uma vez eleitos, sempre fizeram questão de deixar bem claro que a situação do magistério público estadual não era a prioridade destacada na época de campanha.
                 Atualmente não é diferente.
                Somente para exemplificar: quando o governo estadual anterior ajuizou uma ADIN - Ação Direta de Insconstitucionalidade no STF - Supremo Tribunal Federal contra a lei que estabelecia a piso nacional dos professores, a oposição, em especial o partido político do atual governador, fez uma verdadeira campanha de combate político contra a governadora, lembram?
                Agora o atual governador está lançando mão de uma série de subterfúgios que visam dificultar o efetivo pagamento do piso salarial nacional que tanto defendiam (que fosse pago) no governo anterior. Alegam não ter dinheiro (todos os outros governadores alegavam isso - será que na época da campanha eleitoral tinha?); alegam precisar mudar o Plano de Carreira do Magistério (lembram como o partido político do governador reagia quando a ex-governadora lançava mão do mesmo expediente?); alegam precisar de prazo, etc. Há mais de vinte e nove anos que essa situação se repete, governo após governo.
                Ora! Já ouvi alguns pais dizendo que seus filhos, terceiranistas e possíveis prejudicados em caso de greve dos professores estaduais, não têm culpa dos baixos salários dos professores (alguns pais até acham que ganhamos bem de mais para o que fazemos). Concordo que os alunos não têm culpa. E a questão que se apresenta nem é a de procurar culpados para esta situação de descaso com que os professores são tratados há muitos e muitos anos.
                Os governos têm culpa? Com certeza. Mas não só. Os professores também têm enorme parcela de culpa: desunidos em certos momentos, intransigentes ou imediatistas em outros, desorganizados em outros. Mas não só. Os alunos têm culpa? Estes não, mas seus pais, assim como os diferentes governos e os próprios professores, têm ao menos boa pacela de culpa. E justifico.
                Têm parcela de culpa, pois nunca cobraram do(s) governo(s) do estado a adoção de uma política séria para recuperar as absurdas perdas salariais dos professores. Ou algum pai realmente se preocupa ou se preocupou com isso? Têm parcela de culpa, pois nunca procuraram os professores para os apoiar em suas lutas reivindicatórias. Ou algum pai fez isso em campanhas salariais anteriores? Têm parcela de culpa, pois muitos são omissos e ausentes da escola, tendo sempre outros compromissos "mais importantes" do que ir numa reunião convocada pela equipe diretiva ou por um professor.
                Estou escrevendo alguma inverdade?
               Têm parcela de culpa por que continuam votando em políticos incompetentes, corruptos e safados que só colaboram para aumentar o escoador da riqueza nacional, dilapidando os cofres públicos. Isso em todas as esferas de poder político e em todos os níveis da federação.
                Então, amigo leitor, independentemente da deflagração ou não da greve dos professores, da adesão de mais ou menos professores e escolas, quando ouvires os apelos e os argumentos do governo, pense muito bem a este respeito, pois tais argumentos e apelos são os mesmos há muito tempo. Assim com as lutas dos professores públicos estaduais. Na minha vida profissional, há mais de vinte e nove anos.

2 comentários:

  1. A ironia é que o atual secretário de educação e a ex-secretária Marisa Abreu foram militantes do CPERS.

    Propostas non sense como aumenta do ano letivo e do tempo de permanência dos alunos na escola sem reflexão sobre o espaço físico e os recursos humanos tentam se solidificar.

    Lendo comentários em sites como o do jornal Zero Hora, percebe-se as pessoas "descendo a lenha" nos professores, alegando que quem não estiver satisfeito com o salário que mude de profissão.

    Enfim, os próprios professores se desacreditaram do poder da greve - se é que alguma vez ela o teve. Estamos cada vez mais próximos do "eu finjo que ensino e voc~e finge que aprende".

    ResponderExcluir
  2. Realmente é isso que ocorre.
    E o que me desencanata, também, é o fato de que muitos professores não dominam de uma forma geral os fatos, interesses e implicações que envolvem nossa cotegoria e a tomada de decisões como a da deflagração desta greve. Nunca esquecendo, claro, que também é uma questão política e como tal deve ser concebida e avaliada.

    ResponderExcluir