Chegamos na cidade de Cafayate já na tardinha do dia 09 de fevereiro, o fim de semana do carnaval, e ficamos até a manhã de 11. Era nosso primeiro ponto de “descanso”, ou seja, a primeira cidade onde ficaríamos dois pernoites para repor um pouco as forças, equilibrar a hidratação e alimentação, afinal, dali para diante começaríamos a subir a Cordilheira dos Andes e, em dois dias, estaríamos no meio do deserto... Cafayate já fica numa região de semiárido, bem na transição para o deserto.
A
Cidade de Cafayate fica na província argentina de Salta (Salta também é o nome
da cidade capital desta província, uma cidade grande, turística, com muitas
atrações), está em uma altitude de quase 1700 m. Como dito na coluna anterior,
a viagem de pouco mais de trezentos quilômetro tomou-nos praticamente um dia
inteiro, pois eram tantos lugares belos a serem fotografados, tantos pontos
turísticos a serem visitados, que o para-e-anda consumia muito tempo em
detrimento da quilometragem a ser percorrida.
Muitos pontos turísticos até Cafayate |
Voltando à Cafayate, é considerada o segundo maior polo de vitivinicultura da Argentina, ficando atrás apenas de Mendoza. Os vinhos são produzidos em vinícolas que lá são chamadas de “Finca” e comercializados em “Botegas”. As plantações de uvas circundam todo o centro da cidade, desde o sopé das montanhas.
Uma constante na paisagem |
Mas, por incrível que pareça, não tomamos nenhum vinho nos dois dias que ficamos por lá. O grande calor que fazia tornava a cerveja mais apetitosa. Ah, uma garrafa de um bom vinho custava quase o mesmo preço de uma garrafa de cerveja...
Hospedamo-nos
no tradicional hotel Los Toneles, bem no centro da cidade.
*
Turistando
No
sábado, tiramos o dia para conhecer o centrinho de Cafayate, comprar
souvenires, hidratar o corpo véio, conhecer bons restaurantes, passear a
esmo... Na véspera vimos que havia um passeio dirigido de ônibus, com guia, que
visitava várias Fincas, Bodegas e pontos turísticos; na manhã seguinte fomos
fazer o passeio e... não saiu, pois apenas eu e o Chico nos inscrevemos, kkkk,
e o ônibus não ia rodar apenas conosco. Este dia foi realmente um dia de
descanso.
Uma
curiosa condição: em Cafayate, como um muitas das cidades argentinas que ficam
no “pé” da cordilheira, existem “rios de degelo”, que são rios que escoam as águas
que escorrem da cordilheira na época do degelo (primavera). Então, esses rios
descem as montanhas e correm até um outro grande rio de captação. O
interessante é que esses rios passam sobre as rodovias (as estradas e rodovias
possuem desníveis – lombadas invertidas, kkkk, que servem para não represar as
águas que vêm das montanhas). Em algumas cidades esses rios de degelo passam
bem pelo centro. Passamos por apenas dois ou três pontos de desníveis (de
centenas) com água, os demais todos secos devido ao verão. Eu fico imaginando
como deve ser na época de degelo mesmo, pois as estradas devem ficar
praticamente intransitáveis.
Rios de degelo - outra constante: secos no verão
*
Bora pra estrada...
No
domingo pela manhã, domingo de Carnaval, voltamos à estrada, desta feita em
direção ao próximo destino que seria San Salvador de Jujuy, mais trezentos
quilômetros à diante. Seria a última parada antes do deserto propriamente dito
e do destino da viagem que era San Pedro do Atacama.
Novamente
a beleza da paisagem nos surpreendeu: primeiro uma rodovia serpenteante em meio
a uma mata, depois a bela paisagem do deserto na altitude. Mais uma vez a baixa
quilometragem percorrida era inversamente proporcional à quantidade de lugares
bonitos que tínhamos que parar para fotografar ou simplesmente para
contemplar...
*
San Salvador de Jujuy – uma experiência e tanto...
Chegamos
em nosso destino do dia no meio da tarde e fomos logo procurar um hotel... Daí
que os hotéis do centro estavam todos lotados, afinal, era domingo de carnaval,
e como viemos a descobrir, o carnaval é bastante concorrido na Argentina, e
mais ainda nessa região... Fomos em um hotel e nada; fomos noutro, e nada; mais
um, e nada... E a tardinha chegando... E a pressão pegando... E a gente sem
comer e beber a um bom tempo...
San Salvador de Jujuy - vistas espetaculares |
Fomos
então para o Dr Google, aquele que tudo sabe e tudo vê, e procuramos
alternativas de pouso. Foi-nos apresentado um hostel bem avaliado chamado Hostel
Amigo do Motociclista – Moto Pousada. Sem muitas opções, na verdade sem mais
nenhuma, e chegamos e já ficamos...
Pensa num hostel alternativo, espartano, tipo Posada Roots, no sentido quase literal de básico, raiz, elementar. Banheiro coletivo, o chuveiro era uma bambona de plástico com aquecimento por resistência e uma torneirinha donde saía água, a pia era um capacete, os quartos tinham roupas de cama também de uso coletivo, o hall de entrada da pousada era um misto de oficina mecânica, museu bicho-grilo e sala do planet hemp, e os proprietários, gente muito fina, Endrigo e Brujo (leia-se brurro - bruxo) eram membros de um moto grupo chamado Tamperas Negras (isso mesmo, não está escrito errado: Tamperas – uma alusão ou referência aos Panteras Negras do movimento sócio-político-cultural norte-americano). Como era domingo, à tardinha já, e não havia mercado, bar ou restaurante nas proximidades, os proprietários da moto pousada nos agraciaram com bife de fígado de rês e agua gelada (da torneira mesmo, mas segundo el Brujo era relativamente potável...). Para resumir: pensa numa experiência roots, interessante... Ah, as motos ficavam estacionadas dentro da pousada, na sala-museu, e a segurança do local era feita por três enormes pit bulls, que ficavam soltos na pousada... Fica difícil descrever o conflito de sensações e experiências pelas quais passamos naquele final de dia e noite. Felizmente estávamos exaustos e o sono chegou rápido. O jejum intermitente a que fomos submetidos e a chuva que caiu à noite ajudaram a dormir relativamente bem...
Sala de estar da pousada - muito roots |
No
dia seguinte, segunda-feira, subiríamos em direção à Cordilheira dos Andes e ao
deserto. Acordamos bem cedo, nos equipamos e tratamos logo de nos despedir dos
anfitriões, (pagamos ARS 8000 pesos pelo pernoite – mais ou menos R$ 40,00) e
pegar a estrada. Parada para abastecimento e um necessário e bem vindo café da
manhã; foi a melhor média luna que comemos em toda viagem.
Hoje
nós rimos da experiência que tivemos, mas confesso que naquele dia a apreensão
era muito grande... Mas é como diz o ditado: para quem está se afogando, até
jacaré vira tábua, ahahahahahahah.
Saída do Hostel Amigo do Motociclista |
O chuveiro do Hostel - bomba para encher e resistência para aquecer... |
Paisagens fantásticas... |
Vista do centro de Cafayate |
Merecido abastecimento no calor de Cafayate |
Reconhecimento à experiência em Jujuy |
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